HISTÓRIA DE UM BARRACO FLUTUANTE
No Bairro de Sambaqui.
Em sua bela baía,
Instalou-se o inusitado
Símbolo da anarquia.
Como se o Município
Sofresse de acefalia
Um barraco-flutuante
Ancorado à revelia,
Contrariando os preconceitos
De qualquer democracia,
Ninguém na Comunidade
Da safadeza sabia.
O povo da região
Pressuroso denuncia
Ao órgão competente
Que é a capitania,
Que tentou tirar o troço,
Faltou tecnologia.
Tiraram as tábuas de fora,
Tinha tanta porcaria
Pendurada no telhado
Que até então não se via,
Balançando com o vento
Numa macraba orgia.
O Mané fez cara feia
Como se sentisse azia
"Ostra é bom, eu confesso,
Dessa forma não queria,
Prefiro o mar que eu tinha
Antes dessa estrepolia".
"Oh! Que saudade que eu tenho,
Como o poeta escrevia,
De olhar o sol poente
Que minh'alma extasia,
Sem esse monstro umbralino
A frente da poesia".
Mas lá está o barraco
Bisonho à luz do dia,
Desafiando os protestos
Na margem da rodovia.
Oh! Povo de Sambaqui
Cadê tua valentia?
Porém numa bela tarde,
Esperança e alegria,
Acercou-se do barraco
De novo a Capitania,
Com seus bravos Marujos
Usando a Lei a valia.
Sem peias soltam as amarras,
O grilhão se rompia
Libertando o não grato
Concedendo-lhe alforria,
Erradicando a mazela,
Sucesso na cirurgia.
Rumo ao ignorado
Onde não tem serventia,
O malfadado barraco
Enfim desaparecia,
Assim foi a solução
Dessa causa doentia.
O Mané abre um sorriso
Como há muito não sorria
E com certa ansiedade
Aos céus agradecia:
Até que enfim o retorno
A antiga bizarria.
 (volta)
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