Fonte: Alfredo Martins, Márcia Philippe, Angela Tresinari, Daniel B. Cordeiro, Adolfo Stotz Neto
O asteroide 4 Vesta, classificado como Corpo Menor da Sistema Solar segundo Resolução B5 (3) da IAU em 2006, é um dos maiores objetos do cinturão de asteróides e o segundo mais massivo depois de Ceres. Foi o quarto planeta menor descoberto e é o mais brilhante, capaz de atingir um pico mag. de +5,1 durante um período extremamente favorável. Ele possui uma estrutura diferenciada, talvez sua verdadeira natureza seja a de um fragmento de um planeta em formação ou mesmo um protoplaneta. Um corpo do sistema solar é considerado em oposição quando está localizado no ponto oposto do céu em relação ao sol da perspectiva da Terra, permitindo que o sol o ilumine da nossa perspectiva. Este evento oferece uma grande oportunidade de ver uma rocha gigante do espaço, um objeto que orbita o Sol há bilhões de anos. Nesta oposição, ele está passando por seu ponto de perigeu, ou sua aproximação mais próxima da Terra. Esses dois fatores acontecendo ao mesmo tempo dão a Vesta sua magnitude extra brilhante. Em condições ideais, sua magnitude de +5,7 está na fronteira com o limite do que o olho nu pode ver (que é em torno de uma magnitude de 6,5). No dia 2 de maio, o asteroide Vesta alcançou sua a oposição, marcando o período ideal para avistar o segundo maior asteroide orbitando no cinturão rochoso de detritos localizado entre Marte e Júpiter.
Dado este conjunto de circunstâncias, o GEA empreendeu sua primeira Campanha de Observação de um Asteroide. Sendo esta atividade inédita para o Grupo, o principal objetivo foi conquistar o aprendizado deste tipo de observação de fenômeno celeste do Sistema Solar. Independente dos sucessos de importantes observações anteriores, , tal qual o fabuloso Trânsito do Planeta Vênus em 08 de Junho de 2004, sabíamos que os desafios desta experiência seriam muito mais desafiadores. Ao nosso favor, contávamos especialmente com uma câmera de excelente imageamento do céu – Canon EOS RP com lente Grande angular D-Dreamer 15mm F2.0 – pertencente a Coordenadora de Astrofotografia do GEA, a muito entusiasta e habilidosa Márcia Philippe. Um iPhone 16 com exposição noturna também foi utilizado. O treinamento em dezenas de Cursos GEA de Leitura de Céu e Constelações permitiu fácil identificação do sítio da oposição de Vesta, que estava transitando entre as constelações de Balança e Virgem. Mapas Celestes mais confiáveis encontrados na IAU (International Astronomical Union) foram de grande utilidade.
Outrossim, grandes desafios estiveram presentes:
1) Condições de Visibilidade do Céu – Nosso principal sítio de observação foi no Bairro Campeche e Centro de Florianópolis, Ilha de Santa Catarina. Uma região urbana, insular, naturalmente permeada por humidade atmosférica. Esta situação estava agravada por um persistente ciclone no Atlântico Sul carreando enorme circulação atmosférica. Esta condição se manteve no período da Campanha 01 à 17 de maio de 2025.
Nossa avaliação da visão astronômica do céu, considerando o Seeing Index 5 – cobertura de nuvens, e Seeing Index 1 – todas estrelas visíveis, variou de Index 3 para 4. Em outra escala numérica, a Escala de Bortle, variando de Classe 1- Excelente céu escuro, para Classe 9 – céu brilhantemente iluminado, variou de Classe 6 para 9.
Considerando que uma ótima visibilidade de céu se inicia com 300 m de altitude, e que estávamos numa Ilha ao nível do mar, com certeza este aspecto da observabilidade astronômica foi muito impactante.
2) Cartas Celestes – Para localização de objetos celestes abaixo do limite de visibilidade do olho humano, é obrigatório o uso de cartas celestes acuradas ou telescópio com montagem GoTo. Foi facilmente constatado que as configurações estelares dos aplicativos de astronomia são meramente fantasias, pouco relacionados com o céu da realidade. Também, um cuidado especial é diferenciar as cartas celestes desenhadas para observadores do hemisfério norte, que apresentam inversões de orientações geográficas.
3) Telescópio com Câmeras CCD – Embora o GEA tenha acesso a um Telescópio Dobsoniano de 10 pol. com sensor CCD – Svboni 305 – ele não estava disponível para esta campanha. Eles propiciam alta sensibilidade à luz sendo portanto ideais para capturar imagens digitais em condições de baixa luminosidade.
4) Software de Edição de Imagens – Com o empilhamento de astrofotografias, é possível diminuir o ruído de ISO e ganhar nitidez da imagem. Há uma variedade de aplicativos: DeepSky Sacker (para Windows), Lightroom (Apple e Android), Adobe Photoshop etc. Este recurso não foi utilizado.
Enfim, nosso objetivo de estrear uma nova modalidade de observação de eventos celestes foi satisfatoriamente cumprido. Saber das limitações encontradas e conquistar os recursos necessários para garantir o sucesso de novas campanhas, especialmente nas questões de imageamento, foi o grande aprendizado. Os registros desta Campanha seguem na Memória Visual deste post e terá atualização com a contínua análise das inúmeras imagens obtidas.
MEMÓRIA VISUAL