João Evangelista Steiner

JOÃO EVANGELISTA STEINER – PRÓLOGO

Fonte: Alfredo Martins

Na história do GEA – Grupo de Estudos de Astronomia / Planetário UFSC, uma importante providência sempre foi considerada: estar em contato com os grandes centros de divulgação, estudos e realização de projetos e missões da astronomia em nível nacional e internacional, bem como estabelecer contatos com profissionais desta área. Neste sentido, além de alcançar diuturnamente via internet as grandes agências espaciais – NASA (norte americana), ESA (europeia), RKA (russa), JAXA (japonesa), DLR (alemã), CNSA (chinesa), AEB (brasileira), também a participação em eventos com interação direta entre profissionais da astronomia trouxeram ao Grupo o estofo necessário para sua afirmação e credibilidade.

João Evangelista Steiner, certamente, um dos maiores astrônomos brasileiros com elevado reconhecimento internacional e realizador de avanços extraordinários desta ciência no Brasil, foi uma destas sumidades que tivemos a grande felicidade de comparticipar de seus conhecimentos, companhia e especial ajuda.

Catarinense nascido em São Martinho, 1 de março de 1950, tinha as virtudes dos grandes sábios: humilde, afável, perspicaz, estudioso, criador, colaborador e empreendedor. Alcançando o mérito acadêmico de Professor Titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo / IAG-USP, especializado em Astrofísica e reconhecido como referência nestas áreas, prestou relevantes serviços ao governo brasileiro e ombreou nosso país aos gigantes internacionais nos campos da astronáutica, física, astrofísica e astronomia observacional.

Sandra Sedini / IEA-USP, publicou em 10/09/2020, este breve currículo:

“Graduou-se em Física (1973) pelo Instituto de Física da USP e obteve os títulos de mestre (1975) e doutor (1979) em Astronomia pelo Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Realizou pós-doutorado no Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics. Foi professor titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP. Atuou na área de Astronomia, com ênfase em Astrofísica Estelar e Núcleos Ativos de Galáxias.

A lista de seus trabalhos em prol da astronomia brasileira é robusta: a modernização do Observatório Pico dos Dias; a criação do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) e a participação nacional decisiva no consórcio dos observatórios Gemini e Soar, ambos no Chile. Steiner também foi secretário-geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ocupou a Secretaria de Coordenação das Unidades de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e dirigiu o Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) de 2004 a 2007.”

O GEA teve três importantes interações com João Steiner:

# Janeiro de 2005 – Visita ao Telescópio SOAR – Southern Astrophysical Research Telescope / Cerro Pachón, Coquimbo, Chile. Celebrando seu 20º aniversário de atividades ininterruptas, o GEA realizou esta viagem que consagrou internacionalmente seu staff. Ela está documentada neste site em Memória / História do Grupo / 2005. Este histórico evento teve inúmeros corolários, porém é necessário ressaltar: 1) este observatório é vizinho ao grande telescópio americano GEMINI SUL, localizado em território com raio de 30 km que foi comprado ao Chile pelo governo dos EUA. Portanto, somente com autorização oficial do USA é possível a entrada neste sítio. Nosso associado Sérgio Schmiegelow por sua relação familiar com Steiner, foram fundamentais neste credenciamento de acesso do GEA. 2) O cuidadoso planejamento da associada Angela Tresinari que garantiu o sucesso e segurança do Grupo em todas as etapas da viagem; não por menos, ela é considerada a Embaixadora do GEA. 3) O alegre e participativo entusiasmo de todos os participantes que agregaram, além de preciosas informações científicas, vivências inusitadas e peculiares que são recordadas habitualmente.

# Maio de 2005 – Neste ano, em que se celebrou o centenário do “Ano Miraculoso de Albert Einstein” – período em que ele publicou 5 (cinco) artigos originais que mudaram a história da física e da humanidade, a UNESCO implementou o “Ano Internacional da Física”. Dentre os planetários eventos desta comemoração, o Departamento de Física da UFSC promoveu a I Semana de Física do CFM. Entre os ilustres convidados estava João Steiner, apresentando o novo telescópio SOAR e as pesquisas em astrofísica. Após sua concorrida palestra, nos recebeu gentilmente para conversas diversas, agradáveis e produtivas.

# 2009 – Ano Internacional da Astronomia – Foi celebrado neste ano para coincidir com o 400.º aniversário das primeiras observações astronômicas feitas com um telescópio por Galileu Galilei. O GEA realizou inúmeras atividades alusivas a esta data e teve uma excelente ajuda para divulgação pública da astronomia: recebemos um lote do maravilhoso livro “O FASCÍNIO DO UNIVERSO”, editado por João Steiner e Augusto Damineli para distribuição gratuitas em escolas.

João Steiner faleceu em 10 de setembro de 2020 em São Martinho, sua cidade natal, vítima de infarto agudo do miocárdio. Entretanto, para o GEA e a comunidade astronômica onde era amado por todos, ele é imortal em nossa memória por seu imenso e importante legado à astronomia brasileira e por seu magnífico exemplo de ser humano em toda sua compleição.

OBITUÁRIO – CFM & CTS

Morre o catarinense João Steiner, astrônomo reconhecido no Brasil

Fonte: REDAÇÃO ND, FLORIANÓPOLIS, 11/09/2020

Docentes da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) publicaram uma nota de pesar pela morte do professor João Steiner, de 70 anos, ocorrida nesta quinta-feira, 10 de agosto de 2020.

Natural de São Martinho, Steiner era professor titular da USP na área de pesquisa astrofísica estelar e extragaláctica.

Assinaram a nota, professores do CFM (Centro de Ciências Físicas e Matemáticas), em Florianópolis, e do CTS (Centro de Ciências, Tecnologias e Saúde), do campus em Araranguá.

Catarinense nascido em São Martinho, Steiner era professor titular da USP (Universidade de São Paulo), na área de pesquisa astrofísica estelar e extragaláctica. Ele teve diversas colaborações com docentes-astrônomos da UFSC.

Steiner também foi secretário-geral da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), ocupou a Secretaria de Coordenação das Unidades de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e dirigiu o IEA (Instituto de Estudos Avançados) da USP.

Confira a íntegra da nota de pesar:

É com profundo pesar que nós, os docentes da UFSC, recebemos a notícia do falecimento do Prof. João Evangelista Steiner na manhã de hoje, dia 10 de setembro de 2020. Catarinense de São Martinho, ele era professor titular do Departamento de Astronomia do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
Sua área de pesquisa era a astrofísica estelar e extragaláctica (núcleos ativos de galáxias). Ao longo de sua carreira, dedicou-se à orientação em todos os níveis, da iniciação científica ao pós-doutorado. Teve contribuição intensa na formação (orientações, participação em bancas, apresentação de palestras) e no estabelecimento de colaborações com os docentes-astrônomos da UFSC em Florianópolis.

Cientista com grande capacidade de comunicação e professor de didática ímpar, serviu de inspiração para muitos cientistas e despertou o interesse na Astronomia de muitos. Com sua fala calma e precisa, conseguia comunicar-se com igual fluência com cientistas, estudantes, leigos, administradores e políticos.

No início do desenvolvimento da astronomia brasileira, trabalhou intensamente na modernização do Observatório do Pico dos Dias (OPD) e na criação do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA/MCTI) na década de 80. O OPD foi fundamental para a consolidação da Astronomia Observacional no Brasil.

São valiosíssimas as lembranças das noites escuras do OPD em nossas carreiras. Abraçou um dos grandes sonhos da comunidade astronômica brasileira, que era a construção de um telescópio, na época, de grande porte. Esse sonho finalmente concretizou-se com o telescópio SOAR, um moderno telescópio de 4 m localizado no Cerro Pachón no Chile. João teve um papel importantíssimo nesse processo, não só como incentivador e negociador dentro da comunidade astronômica mas também fora dela procurando via FAPESP e CNPq financiar o projeto.

A comunidade astronômica usa esse telescópio desde 2004. Inúmeros projetos, artigos, estudantes, dissertações, teses, descobertas já brotaram no SOAR. Quase simultaneamente também nos tornamos parceiros de um dos maiores telescópios do mundo, os telescópios Gemini.

Novamente um esforço coletivo da comunidade, no qual o Prof. Steiner teve grande participação combinando interesses de inúmeros pesquisadores. Atualmente estava profundamente envolvido com a participação brasileira no telescópio GMT, um dos grandes telescópios da nova geração.

Hoje a Astronomia Brasileira perdeu uma de suas grandes estrelas.

O Prof. João fará muita falta.

Abílio Mateus (FSC/CFM)
André Amorim (FSC/CFM)
Antônio Kanaan (FSC/CFM)
Bernardo Borges (FQM/CTS)
Daniel Dutra (FSC/CFM)
Natalia Asari (FSC/CFM)
Raymundo Baptista (FSC/CFM)
Roberto Cid Fernandes (FSC/CFM)
Roberto Saito (FSC/CFM)

OBITUÁRIO – JORNAL DA USP

Fonte: Luiza Caires, jornalista e editora de Ciências do “Jornal da USP”, 11/09/2020

Amorte nesta quinta-feira, 10 de setembro, do astrofísico João Steiner, professor titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP, atingiu a todos que conhecem sua importância para o desenvolvimento e reconhecimento da astronomia brasileira. Mas sua perda está longe de ser sentida apenas pela comunidade acadêmica e pelo núcleo familiar. Qualquer pessoa que tenha tido contato com o ser humano João Steiner – ainda que desconheça seus feitos como cientista – tem hoje um nó na garganta

Estou no grupo que teve a chance de conhecer um pouco das duas faces – pessoal e profissional, que se misturavam neste grande ser humano que ontem foi tirado da nossa convivência. Durante quatro anos (começamos exatamente em setembro de 2016), todos os meses, eu ia até o IAG para gravar com ele sua coluna “Entender Estrelas”, veiculada na Rádio USP. A decisão de ir gravar pessoalmente, não pelo telefone ou aplicativo, como fazemos para algumas colunas, logo se mostrou uma escolha muito feliz para mim. Era um privilégio passar um tempo na companhia daquele homem que emanava amor pelo conhecimento e por partilhá-lo. Posso apostar que qualquer jornalista que até então torcesse um pouco o nariz para assuntos científicos, e fosse passar algumas horas entrevistando o professor, sairia de lá empolgado pela astronomia.

Era isso o que ele fazia: nos contaminava com sua energia vibrante, um entusiasmo inabalável. Eu nunca vi o professor Steiner desanimado. Um pouco cansado, uma ou outra vez; desanimado, jamais. Às vezes, era eu quem não estava nos melhores dias e ia até lá gravar, já sabendo do poder terapêutico daquela uma hora, hora e meia, que passaria com o professor – e nunca me decepcionava. Quantas aulas de astronomia eu tive com o gravador desligado. Ele parava, pegava papel e caneta, e começava a esboçar esquemas sobre os fenômenos de que íamos falar na gravação. Ou abria o computador e começava a procurar imagens para me mostrar.

Muitas vezes eu propunha os temas para a gravação em cima da hora, como todo jornalista apressado que às vezes se enrola no tempo. Ele imprimia o artigo que sugeri abordar, batia o olho e começava a falar fluentemente, como se estivesse familiarizado com o tópico há vários dias. A mente veloz e dinâmica deste homem nos seus 70 anos não cansava de me surpreender.

Com o gravador desligado, também, é que conheci um pouco da face humana do professor. Era quando, além de algumas conversas animadas sobre ciência, política, ou qualquer outro assunto, ele me contava as histórias da carreira e alguns detalhes da vida pessoal.

Certa vez, após uma de suas orientandas deixar a sala enquanto eu chegava para a gravação, o professor Steiner me contou que era muito procurado por alunas mulheres para que as orientasse, em particular jovens em iniciação científica. Pesquisadoras das áreas de exatas podem falar melhor do que eu das dificuldades que vivem no meio devido ao gênero. Ser o orientador preferido delas não quer dizer pouco. Significa a boa fama que adquiriu, e que se espalhou nos bastidores, pelo respeito e humanidade – sem paternalismo – com que as tratava. Ele talvez nem percebesse essa ser a causa da procura (ou se percebia, delicado como era, não falaria). Não contou isso envaidecido, e sim com a naturalidade de quem achava que só fazia o mínimo.

Educação era um dos seus temas mais caros. Quando falava do curso para professores do ensino médio que coordenava há dez anos ou das palestras que dava em escolas, os olhos brilhavam. Em mais de uma ocasião, fez questão de me mostrar o mapa que apresentava todas as cidades do Brasil onde havia professores formados pelo curso. “Muitos professores de ciências não têm conhecimento básico de astronomia, e a gente precisa mudar isso”, falava, preocupado.

Ficou conhecido pelas descobertas científicas, mas era desses projetos que ele tinha mais orgulho. Quantos pesquisadores como ele, conhecidos internacionalmente, e em cuja carreira não faltassem honrarias e reconhecimento, parariam tudo que estavam fazendo para ir até uma escola pública falar a alunos que pouco ou nada conheciam sobre astronomia?

Tendo galáxias e os buracos negros como algumas de suas áreas de pesquisa, era conhecido, para além do brilhantismo como cientista, por sua grande capacidade didática: um verdadeiro professor e comunicador, capaz de falar de astronomia para todo tipo de público.

No nosso último encontro (ouça a coluna no player abaixo), agora virtual por causa da pandemia, ligou a câmera e me mostrou seu sítio, em Santa Catarina, um pequeno paraíso na natureza, onde parecia se encontrar. “Quando tudo isso passar, você vem aqui conhecer!”, me convidou, animado. Não deu tempo. Assim como não houve como acompanhar em vida alguns fenômenos astrofísicos que ele aguardava ver. Mas a foto do buraco negro e a detecção de ondas gravitacionais, isso ele pode assistir, quase com a alegria de uma criança descobrindo o mundo. Não era pouco para alguém que teve que ouvir ironias de colegas mais experientes que sequer acreditavam na existência de buracos negros quando ele defendeu o mestrado sobre o assunto, décadas atrás, ter a oportunidade de viver o dia em que a ciência avançou a ponto de “fotografar” esse objeto.

Também não deu tempo de dar um abraço físico no meu querido professor. Só “abraços” por e-mail e telefone. Por respeito e timidez, era sempre a mão que eu estendia quando o encontrava. Talvez eu tivesse feito diferente se soubesse que ele iria embora tão rápido. Mas isso não importa tanto agora. O afeto mútuo que nutríamos era real, e já é privilégio suficiente ter sido iluminada pela sua presença durante esses anos.

O privilégio da convivência

A seguir, alguns depoimentos de colegas e alunos, coletados pelo IAG, que também tiveram a sorte de conviver com o professor João Steiner, em sua passagem por este planeta, e serão eternamente gratos por isso.

Laerte Sodré Junior, professor titular do Departamento de Astronomia do IAG:

“Esta é uma grande perda pessoal. Nós – João [Steiner], Augusto [Damineli] e eu – começamos a faculdade juntos, em 1970, e desde então compartilhamos da evolução do País, da Universidade e da astronomia brasileira. Dizem que algumas pessoas são ‘forças da natureza’, e João definitivamente se encaixa nesta definição. Ele era uma das pessoas mais energéticas e determinadas que eu já conheci e, certamente por esses motivos, ele deixa um legado invejável para nossa Astronomia, incluindo os telescópios SOAR e Gemini e, mais recentemente, a participação de São Paulo no GMT. Ele também deixa uma legião de jovens cientistas que orientou e supervisionou. Além de nossas memórias, ele continuará vivo nos laboratórios que ajudou a construir e nas pessoas que ajudou a formar.”

Augusto Damineli, professor titular do Departamento de Astronomia do IAG:

“João vivia e transpirava ciência: como pesquisador, orientador, administrador e gestor científico, professor e divulgador. É impossível resumir seu curriculum. Sua fama atraiu muitos jovens para a área de Astronomia. Formou uma geração de mestres e doutores de primeira linha, alguns deles com emprego no exteri

Como educador, sempre levantou o entusiasmo dos alunos. Suas aulas do curso Astronomia uma Visão Geral, do IAG-USP, foram gravadas pela TV Cultura e têm mais de 1 milhão de downloads. Alguém precisa desvendar o segredo de como um curso de nível universitário pode atingir tamanha audiência no Brasil. Ele estava mantendo um curso semipresencial de formação de professores de grande sucesso no Estado de São Paulo. Seu porte grande de alemão podia até despertar um certo receio nos mais desavisados, mas sabia fazer crianças pequenas felizes, principalmente bebês de colo.

Os indígenas brasileiros dizem que, quando uma pessoa morre, ela vira uma estrela. Não se assuste se encontrar uma nova estrela de PRIMEIRA MAGNITUDE no céu.”

Claudia Lucia Mendes de Oliveira, professora titular do Departamento de Astronomia do IAG:

“João trabalhou intensamente para fazer do Brasil uma liderança na comunidade astronômica internacional. Ele foi o principal condutor de nossa participação nos consórcios SOAR, Gemini e, é claro, GMT. É uma perda imensa para as comunidades astronômicas brasileira e internacional.”

Pedro Leite da Silva Dias, diretor do IAG e professor titular do Departamento de Ciências Atmosféricas do IAG:

“João Steiner sempre me impressionou pela coragem de enfrentar grandes desafios. Teve um papel marcante na evolução do Departamento de Astronomia do IAG e da astronomia brasileira. Sua contribuição não foi restrita à astronomia. Contribuiu para que o IAG se aproximasse na sociedade através da agregação de empresas privadas em projetos científicos e estimulou a criação de cursos de especialização para professores das escolas públicas, além de sua enorme contribuição científica. Foi sempre uma voz importante na elaboração de planos estratégicos e com visão de futuro. Perdemos um grande defensor e divulgador da ciência e tecnologia. Seu exemplo está impregnado nos seus colegas e alunos e será passado para a frente.”

Roderik Overzier, professor do Observatório Nacional (ON), no Rio de Janeiro:

“Desde que cheguei ao Brasil em 2013, ninguém fez mais para me aceitar na família científica do que João. Ele era meu amigo, um mentor e ‘parceiro no crime’, de quem sentirei muita falta. Não concordamos em todos os planos ou abordagens, mas compartilhamos totalmente a filosofia de que qualquer dia em que limites artificiais não sejam empurrados é um dia roubado da próxima geração de cientistas brasileiros. O grande carvalho da astronomia brasileira caiu, e estaremos perdidos sem sua sombr

Tutores e equipe do curso EAD – Pedro Beaklini, Daniel May, Felipe Navarete, Larissa Takeda, Luis Kadowaki, Catarina Aydar, Helio Perottoni, Phillip Galli, Beatriz Fernandes, Daniele Ronsó e Maria Teresa Lopes:

“O professor João Steiner também foi atuante na busca pela melhora da educação básica. Nos últimos anos, se dedicou na elaboração de cursos semipresenciais voltados ao aperfeiçoamento da docência. Primeiramente em parceria com outros institutos da USP, como a EACH e o IF, o curso foi remodelado nos últimos três anos para aproveitar o extenso material de aulas gravadas pelo professor, todas de excelente qualidade. João buscou financiamento e tutores entre os pós-doutores, passando para a nova geração de cientistas a importância do trabalho com a educação como uma forma de contribuição para sociedade. Participava com muito entusiasmo e carinho em tudo que era relacionado ao curso; quando presente nos encontros, servia de motivação e inspiração para aqueles que estão à frente da educação: os professores. O carinho por ele é relatado por todos que fizeram o curso.”

Catarina Aydar, aluna de mestrado:

“Nesta despedida, gostaria de expressar minha profunda admiração pelo professor João Steiner, agradecendo por tudo o que ele me ensinou e fez por mim, além de tudo o que ele fez pela comunidade científica brasileira. Quando estava na escola e decidi que queria estudar astronomia, quem me confirmou esse interesse foi o professor, em vídeos no YouTube que tornam um curso de astronomia acessível para qualquer pessoa que tenha interesse e internet.”

Depois, na faculdade, conheci Steiner pessoalmente nas aulas. Seu fascínio pelo Universo era tão contagiante que, na primeira matéria que fiz no IAG, já estava pedindo para fazer iniciação científica com ele. Por fim, entrei em contato com João, que me orientou e me apoiou nos últimos cinco anos abrindo muitas portas e me ensinando muito mais do que todo o conhecimento científico que ele passou. Fico triste pela perda, porque ainda queria poder trocar muito mais com ele, entender melhor como funcionam esses ambientes nas diferentes escalas em que nos situamos. Mas agora ele segue sua jornada e talvez se transforme em um brilhante quasar que poderemos admirar a distância. Serei eternamente grata por tudo o que pudemos compartilhar; por ter sido mais que orientador e professor, mas também parceiro e amigo, sempre atento ao nosso lado humano. Agradeço por todas as contribuições para a comunidade científica, por ser esse exemplo de integridade e sabedoria. Vá em paz, João, que por aqui continuaremos nos esforçando para dar continuidade ao seu legado.

Obrigada por tudo, de sua aluna Catarina.”

Daniel May, pós-doutor em Astronomia:

“Perdemos hoje aquele que fez do País uma referência mundial em astronomia, graças à sua dedicação ímpar e às pessoas que ele inspirou. No momento não consigo imaginar uma única pessoa que faria todo o trabalho atualmente conduzido por ele: desde pesquisas importantes para a astrofísica, seu grande papel e carisma como divulgador da ciência e a herança deixada por nos fazer sócios do primeiro grande telescópio para esta década. Mas consigo imaginar, no entanto, que a inspiração que nos causa fará este legado continuar nas mãos de todos que conheciam seu trabalho.

Como ele costumava dizer: ‘Todos nós somos alfabetizados a ler e a escrever na escola, por que não sermos também alfabetizados cientificamente, para sermos melhores cidadãos?’.

E assim brilham mais as estrelas, nesta hora da sua partida. Obrigado, João.”

Entender Estrelas:

A última coluna do professor Steiner foi ao ar nesta sexta, 11 de setembro – ele falou sobre as evidências encontradas de que a supernova 1987A abriga uma estrela de nêutrons.

JOÃO EVANGELISTA STEINER – BIOGRAFIA

Fonte: Wikipedia, a enciclopédia livre

João Evangelista Steiner (São Martinho, 1 de março de 1950 — São Martinho, 10 de setembro de 2020) foi um astrofísico brasileiro. Foi professor titular do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). Sua área de trabalho foi a astronomia, com ênfase em astrofísica, variáveis cataclísmicas e núcleos ativos de galáxias (associados a buracos negros de grande massa que podem ter grande luminosidade).

Nascimento1 de março de 1950
São Martinho, Santa Catarina
Morte10 de setembro de 2020 (70 anos)
São Martinho
NacionalidadeBrasileiro
CidadaniaBrasil
Alma MaterUniversidade de São Paulo (AB, MA, PhD)
OcupaçãoAstrofísico
EmpregadoraUniversidade de São Paulo
OrientadorJosé Antônio de Freitas Pacheco
InstituiçõesUniversidade de São Paulo
CampoAstrofísica
TeseA captura de matéria por objetos compactos (1979)

BIOGRAFIA

João nasceu na cidade de São Martinho, em Santa Catarina, em 1950. Bisneto de alemães por ambos os lados, era filho de Arno Steiner e Alzira Boeing, sendo a sua mãe descendente remota de William E. Boeing, fundador da notória fabricante de veículos aeroespaciais homônima, e frequentou as escolas primárias de São Martinho e Vargem do Cedro e o segundo grau nos colégios Sagrado Coração de Jesus (Corupá) e São José (Rio Negrinho). Formou-se bacharel em física pela USP (1973), onde também fez o mestrado (1975) e o doutorado (1979), sob orientação de José Antônio de Freitas Pacheco. Realizou o pós-doutorado na Universidade Harvard (1979-1982).

Suas principais linhas de pesquisa foram quasares, núcleos ativos de galáxias e variáveis cataclísmicas. Orientou mais de 20 teses de doutorado e mestrado. Foi membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), União Astronômica Internacional, American Astronomical Society, entre outras.

Liderou um grupo de astrônomos brasileiros de várias instituições que realizou um recenseamento de buracos negros nos núcleos das galáxias do grupo local (Projeto DIVING3D). Com este recenseamento, o mais preciso já realizado, pretendeu explicar e quantificar o número de buracos negros existentes, além de quantos deles estão capturando matéria e quantos não. Também foi membro do Conselho Diretor do Observatório Gemini, SOAR e coordenou o esforço brasileiro na participação da construção do telescópio GMT (Telescópio Gigante de Magalhães), que será o maior do mundo quando ficar pronto em 2024.

CARREIRA

Fez o pós-doutorado na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e foi contratado pelo Instituto Smithsonian como funcionário público norte-americano.

Coordenou a implantação do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos, impulsionou a modernização do Observatório Pico dos Dias, a criação do primeiro Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA) e a participação nacional decisiva no consórcio dos observatórios Gemini e Soar, ambos no Chile.

Propôs, em parceria com o astrônomo estadunidense Jules Halpern, que as galáxias chamadas LINERS contêm núcleos ativos e, portanto, buracos negros supermassivos. Com esta proposta, passou-se a entender que a maior parte das galáxias possui um buraco negro no seu núcleo. Propôs também uma classificação de quasares que identificou pela primeira vez um grupo de objetos que hoje são conhecidos como “linhas estreitas da Galáxia Seyfert”; estes objetos estão associados a buracos negros brilhando no seu limite máximo.

Trabalhou durante duas décadas com sistemas binários de Variáveis cataclísmicas nos quais uma anã branca captura matéria de uma estrela de sequência principal, podendo resultar em fusão entre as duas estrelas e gerando uma nova. Juntamente com o ex-aluno Marcos Diaz, identificou uma classe de quatro estrelas com propriedades espectroscópicas e fotométricas semelhantes batizado de “estrelas V Sagittae”, composto pelas estrelas V617 Sgr, HD 104994, WX Cen e V Sge, nas quais a produção nuclear de energia ocorre na superfície e não no centro da estrela.

Steiner foi presidente da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), Secretário-Geral da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), ocupou a Secretaria de Coordenação das Unidades de Pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Diretor de Ciências Espaciais e Atmosféricas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Também foi Coordenador de Astrofísica do Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCT), membro do Conselho Diretor do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNEPEM) e ainda dirigiu o Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP).

MORTE

João Steiner morreu em 10 de setembro de 2020 em São Martinho, sua cidade natal, em decorrência de um infarto.

Curiosamente, no mesmo ano de sua morte, no 235º encontro da American Astronomical Society, os professores Bradley E. Schaefer, Juhan Frank e Manos Chatzopoulos anunciaram que sua equipe de pesquisadores do Departamento de Física e Astronomia da Universidade do Estado da Luisiana descobriram que o sistema binário V Sagittae irá se fundir em uma nova e temporariamente se tornar o ponto de luz mais luminoso da Via Láctea e a estrela mais brilhante em nosso céu por volta do ano 2083 e posteriormente se transformar em uma gigante vermelha.

PRÊMIOS E TÍTULOS

1998 — Ordem Nacional do Mérito Científico – Grau de Comendador.
2001 — Ordem do Rio Branco – Grau de Comendador.
2005 — Membro eleito da Academia Brasileira de Ciências.
2009 — Membro eleito da The World Academy of Sciences (TWAS)
2010 — Ordem Nacional do Mérito Científico – Grau de Grã-Cruz.

MEMÓRIA VISUAL

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