VALENTINA V. TERESHKOVA – PRÓLOGO
Fonte: Alfredo Martins
O dia 16 de junho de 1963 é histórico para astronáutica. A bordo da cápsula Vostok 6, a cosmonauta russa Valentina V. Tereshkova subiu ao espaço sideral e orbitou a Terra 48 vezes em quase três dias. Sua carreira marcada pela coragem e habilidades excepcionais foi coroada com a primazia de ser a primeira mulher a voar ao espaço. Além disto, até hoje detém a honrosa condição de ser a única mulher a se aventurar sozinha num voo orbital. Somado ao fato de seguir ativa com importante participação social e política, tornou-se um ícone da inspiração feminina para o sucesso e também para a formação de novas gerações de mulheres independentes, conquistadoras de seu sonhos.
Valentina se casou com o cosmonauta Andriyan Nikolayev, e a filha do casal, Elena Andrianovna, se tornou a primeira pessoa no mundo a ter ambos os pais que foram ao espaço. Em 1997 ela se aposentou como cosmonauta. Atualmente, com 87 anos, vive em Yaroslavl.
Além das extensas informações nas diversas mídias sobre esta heroica personagem, vale muito destacar a bela e concisa citação literária publicada por nosso astronauta Marcos Pontes em sua conta no Instagram, celebrando o 60° aniversário da sua histórica missão:
–“ Valentina Tereshkova, a cosmonauta soviética, em 1963, se tornou a primeira mulher no espaço. No último domingo (16/06), celebramos essa conquista feminina que abriu caminho para várias outras. Tive a honra de conhecer Valentina durante os preparativos da Missão Centenário, da qual participei. Sua presença foi inspiradora: ela acompanhou a equipe em cada teste até o momento do lançamento.
Tereshkova veio de uma família humilde, nasceu em uma pequena aldeia e assumiu responsabilidades cedo para ajudar a mãe. Ainda jovem, destacou-se como paraquedista. Tal habilidade foi fator determinante na escolha da mulher que cumpriria a missão espacial.
O sucesso de uma missão não é definido por narrativas, mas pela verdade, pelos valores e pela determinação de cada ser humano. O significado é ainda maior quando conduzido com integridade e comprometimento. É isso que traz os sonhos à realidade.”
Outrossim, “A Rainha do Espaço” – este perfeito epíteto para Tereshkova, merece e precisa ser contextualizado no período da Guerra Fria, marcado por um conflito político-ideológico entre Estados Unidos e a ex-URSS / União Soviética, entre os anos de 1947 e 1991. Para isto, vamos reproduzir um excelente post do blog “História Mundi”, publicado no endereço eletrônico:
https://histormundi.blogspot.com/2017/10/imagens-historicas-25-valentina.html?lr=1719583887302.
VALENTINA TERESHKOVA
Ela faz jus ao nome! A primeira mulher a se aventurar no espaço foi uma das personagens da conhecida corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética, iniciada quando os soviéticos colocaram um satélite artificial em órbita da Terra, o Sputnik, em 1957. Um dos momentos mais lembrados da Guerra Fria. Ah, mas os soviéticos não conseguiram chegar na Lua! Bem, pensemos um pouco mais. O primeiro satélite; o primeiro homem levado ao espaço (Iuri Gagarin, em 1961); a primeira mulher em uma viagem espacial; o primeiro homem a caminhar no espaço fora da nave (Alexey Leonov); a primeira estação espacial; entre outras façanhas, foram realizações dos soviéticos. E até hoje, a nave Soyuz (o “Fusca” do programa espacial russo), transporta os astronautas da Estação Espacial Internacional. Perguntem hoje aos russos quem eles consideram como sendo os vencedores da corrida espacial? Não é difícil imaginar a resposta.
Pois bem, Valentina Tereshkova foi selecionada entre 400 candidatas para formar um corpo feminino de cosmonautas, junto com outras 4 mulheres. Nascida em 1937 no interior da Rússia, filha de trabalhadores soviéticos (o seu pai morreu na Segunda Guerra), a sua primeira credencial era o fato de ser paraquedista, embora fosse também operária têxtil. Sim, ela exercia as duas atividades! Em 1962, o seu perfil físico foi considerado ideal para que fosse escolhida a primeira mulher a participar de um voo espacial. Seria mais um ponto importante que os soviéticos marcariam diante dos norte-americanos. A rivalidade entre as duas potências era tão acirrada, que até mesmo o termo “astronauta” não era utilizado pelos soviéticos, mas sim cosmonauta.
O treinamento ao qual Valentina Thereshkova foi submetida incluiu testes de isolamento, testes de centrífuga, pilotagem em jatos de combate (os famosos MIGs), aulas teóricas de engenharia aeroespacial, mais 120 saltos de paraquedas, até que Valentina fosse considerada plenamente apta para a viagem. A ideia inicial era realizar dois voos em sequência (com intervalo de poucos dias), os quais levariam duas mulheres ao espaço. O plano acabou sendo alterado. O foguete Vostok 5 conduziu um cosmonauta masculino, Valery Bykovsky e em seguida, o Vostok 6, com Valentina.
Depois de assistir o lançamento do Vostok 5, em 14 de junho de 1963, Tereshkova iniciou os preparativos finais de seu próprio voo, previsto para a manhã do dia 16 de junho de 1963. Na data estabelecida, literalmente selada no compartimento da minúscula cápsula, a cosmonauta de 26 anos acompanhou a contagem regressiva de duas horas até o lançamento da Vostok 6. Valentina Tereshkova tornava-se a primeira mulher no espaço e orbitou a Terra 48 vezes. A cosmonauta passou muito desconforto físico e sofreu náuseas nos quase três dias que esteve em órbita. Apesar disso, conseguiu apreciar o “passeio” sobre a Terra:
– Sinto-me como uma gaivota, e estou animada e bem-disposta. Vejo daqui o azul-esmaecido do horizonte e a Terra como uma barra azul. Que beleza!
Em um único voo, ela somou mais tempo no espaço do que todos os astronautas norte-americanos que tinham viajado até essa data.
Após o grande feito, Valentina foi incorporada à Força Aérea Soviética, recebendo várias condecorações e homenagens. Um fato curioso, Tereshkova casou-se a primeira vez com um cosmonauta, Andryan Nicolaiev, e a filha que teve desse casamento, Elena Andrianovna Nikolaeva-Tereshkova foi a primeira pessoa no mundo a ter uma mãe e um pai que haviam viajado para o espaço!
Além do feito como cosmonauta, Valentina Tereshkova fez carreira política na União Soviética, tornando-se membro do Soviet Supremo (Parlamento Soviético) e do Comitê Central do Partido Comunista. Em várias oportunidades, representou a União Soviética no exterior, como na Conferência da ONU para o Ano Internacional da Mulher, realizada na Cidade do México, em 1975. Mesmo após a desintegração da União Soviética em 1991, o seu prestígio não foi abalado, continuando a ser eleita para o novo Parlamento Russo ou Duma do Estado, onde está até hoje. Recebeu homenagens por parte do primeiro-ministro Vladimir Putin em 2007, quando completou 70 anos de idade. Completou 80 anos em plena atividade e é tratada como heroína nacional na Rússia. Trata-se de uma personagem muito pouco lembrada aqui pelos lados ocidentais…
MEMÓRIA VISUAL
VALENTINA TERESHKOVA – BIOGRAFIA
Fonte: Wikipedia, a enciclopédia livre
Valentina Vladimirovna Tereshkova (em russo: Валентина Владимировна Терешкова; Bolshoye Maslennikovo, 6 de março de 1937) é a primeira cosmonauta e a primeira mulher a ter ido ao espaço, em 16 de junho de 1963, na nave Vostok 6.
Transformada em uma heroína nacional após o sucesso de sua missão, condecorada por líderes soviéticos, russos e estrangeiros de várias nações, nos anos seguintes se tornou proeminente na sociedade e na política do país, primeiro na União Soviética e depois na Rússia. Até os dias atuais, é a única mulher a ter feito um voo solo ao espaço.
Deputada do Duma Federal pelo Oblast de Iaroslavl
Período | 21 de dezembro de 2011 atualmente |
Dados Pessoais
Nome completo | Valentina Vladimirovna Tereshkova |
Nascimento | 06 de março de 1937 (87 anos) Bolshoye Maslennikovo, Iaroslavl, Rússia, União Soviética |
Progenitores | Mãe: Elena Tereshkova Pai: Vladimir Tereshkov |
Alma mater | Academia Zhukovsky de Engenharia da Força Aérea |
Marido | Andrian Nikolayev (1963–1982) Iuli Shaposhnikov (1982–1999) |
Partido | Comunista (1960–1991) Nosso Lar – Rússia (1995) Russo da Vida (2003) Rússia Unida (2008–presente) |
Profissão | Paraquedista Engenheira Pilota Cosmonauta Político |
Serviço Militar
Serviço/ramo | Força Aérea Soviética |
Anos de serviço | 1962–1997 |
Graduação | Major-general |
Carreira Espacial
Tempo no espaço | 2 dias, 22 horas, 50 minutos |
Seleção | Grupo Feminino 1962 |
Missões | Vostok 6 |
Aposentadoria | 1997 |
Prêmios | Herói da União Soviética Piloto-cosmonauta da URSS Ordem de Lenin Ordem da Revolução de Outubro Ordem da Bandeira Vermelha do Trabalho Ordem da Amizade dos Povos |
BIOGRAFIA
Oriunda de uma família proletária – seu pai era um motorista de trator, desaparecido na guerra russo-finlandesa de 1940 – Valentina só entrou para a escola aos oito anos e começou a trabalhar com dezoito, em uma fábrica têxtil, para ajudar a mãe viúva. Na mesma época, começou a participar de um clube de paraquedistas amadores e deu seu primeiro salto em 21 de maio de 1959. Criou o Clube de Paraquedistas Amadores da fábrica e tornou-se sua presidente. Dois anos depois, se tornou secretária do Komsomol local e recebeu um certificado de especialista em tecnologia de fiação.
Aos 24 anos, em 1961, começou a estudar para se qualificar como cosmonauta, no mesmo ano em que o diretor do programa espacial soviético, Sergei Korolev, considerou enviar mulheres ao espaço, numa forma de colocar a primeira mulher em órbita na frente dos Estados Unidos, durante a corrida espacial entre as duas superpotências.
Em 1962, ela foi admitida como cosmonauta, junto a mais quatro mulheres – das quais apenas ela acabou indo ao espaço – sendo a menos preparada de todas, sem educação universitária, mas uma paraquedista experiente, o que era uma considerada uma condição fundamental para o voo, já que a nave Vostok operava automaticamente, dispensando pilotagem. Os postulantes a cosmonautas deviam ter menos de 30 anos, menos de 1,70 m, menos de 70 kg, saúde perfeita, ideologia pura e ao menos seis meses de experiência em paraquedismo. Ela cumpria todas as exigências. Ao final dos meses de testes, que incluíram aprendizagem de pilotagem de jatos, testes em centrífugas e isolamento completo, ela e outra candidata, Valentina Ponomaryova, foram as finalistas. Ponomaryova, mais preparada tecnicamente e com educação melhor, tinha sido a mais apta nos testes gerais mas Tereshkova tinha sido a melhor nas entrevistas com os ideólogos do Partido Comunista. De qualquer maneira, o governo soviético, cuja intenção de enviar uma mulher ao espaço era fazer propaganda política no Ocidente, pretendia fazer um voo duplo, com duas mulheres subindo ao espaço em naves separadas. O plano porém, foi cancelado de última hora pelo Politburo e decidido que apenas uma subiria; a outra nave seria pilotada por um homem.
Foi Nikita Krushev quem decidiu finalmente por Tereshkova, e a idealizou como a “Nova Mulher Soviética”: uma comunista devotada, trabalhadora humilde de fábrica de tecidos – Ponomaryova era piloto, cientista, engenheira, feminista, desbocada e fumava – filha de um herói de guerra e basicamente “uma boa menina”. Para questões de propaganda, Krushev também achava que Valentina era a mais bonita delas. Irina Soloviyova, a terceira candidata melhor avaliada, ficou como cosmonauta-reserva. Nikolai Kamanin, piloto herói de guerra soviético e então chefe do departamento de treinamento de cosmonautas do programa espacial soviético, depois chamaria Tereshkova de “Gagarin de saias”.
Valentina com o traje espacial.
Primeira mulher no espaço
Em junho de 1963, a União Soviética colocou duas espaçonaves simultaneamente no espaço, lançadas com diferença de dois dias, a Vostok V e a Vostok VI. A primeira foi pilotada por Valery Bykovsky, que bateu o recorde de resistência no espaço, quando completou uma missão de cinco dias. Valentina voou na Vostok VI, lançada de Baikonur em 16 de junho, tornando-se a primeira mulher no espaço. Ela completou 48 órbitas ao redor da Terra, no total de 71 horas, quase três dias, apesar das náuseas, vômitos – segundo ela pela qualidade da comida a bordo – de dores fortes na canela direita a partir do segundo dia e do desconforto psicológico que sentiu. Depois de chegarem a permanecer em órbita a uma distância de 5 km uma da outra, com Bykovsky e Tereshkova trocando impressões e saudações por rádio entre si e com o controle de terra, ambas as naves aterrissaram no dia 19 de junho.
Valentina teve problemas em seu retorno. Além da falta de rádio após a nave ser colocada em órbita descendente e iniciar os procedimentos de descida, quando ejetada da Vostok VI já na atmosfera e continuar a descer de paraquedas, esteve próxima de cair dentro de um lago. Ela narra em suas memórias que se isso acontecesse talvez não conseguisse sobreviver, sem forças para nadar até a borda, estando desidratada, exausta, com fome pelas náuseas que praticamente a impediram de comer em órbita, e psicologicamente afetada pela viagem – em princípio programada para um dia mas alongada para três, pela sensação que causou no mundo seu lançamento. Mas um forte vento mudou a direção do paraquedas e a fez cair em terra. Mesmo assim, o impacto foi forte e ela ficou com uma grande mancha roxa no nariz, que bateu no capacete, sendo obrigada a usar forte maquiagem pelos próximos dias de aparições públicas oficiais. Seus três dias a bordo da Vostok eram então mais tempo no espaço que todos os astronautas norte-americanos tinham juntos. Só nos anos 1980 uma mulher russa voltaria ao espaço.
No local onde Valentina pousou, existe hoje um pequeno parque com uma estátua de prata retratando a cosmonauta com os braços abertos, vestida em traje espacial e sem capacete. Seu sinal de chamada na Vostok VI, “Chaika” (gaivota), tornou-se seu apelido entre o povo soviético. Uma cratera na Lua, Tereshkova [ e um asteróide, 1671 Chaika, foram batizados em sua homenagem.
VIDA POSTERIOR
Em novembro de 1963, Valentina e o cosmonauta Andrian Nikolayev se casaram e tiveram uma filha, Elena Andrianovna, considerada a primeira criança nascida de pais cosmonautas. Divorciada em 1982, casou-se novamente com um médico, Yuli Shaposhnikov, morto em 1999. Em 1969, ela formou-se em engenharia na Academia Militar da Força Aérea de Zhukovsky. Após sua formatura, retirou-se oficialmente do programa espacial para entrar na política e recebeu uma comissão honorária da Força Aérea Russa, retirando-se com a patente de major-general.
Ao realizar o primeiro voo espacial feminino, Valentina recebeu as duas principais condecorações do país, Herói da União Soviética e a Ordem de Lenin, além de outras comendas e homenagens importantes. Em 2013, durante as comemorações do 50º aniversário de seu voo, recebeu a Ordem de Alexandre Nevsky das mãos de Vladimir Putin. Ela também foi presidente do comitê das mulheres soviéticas e tornou-se membro do Soviete Supremo, o parlamento da URSS, e do Presidium, um grupo especial dentro do governo soviético, tendo sido proeminente na política do país de 1966 a 1991, representando a URSS na Conferência das Nações Unidas para o Ano Internacional da Mulher na Cidade do México em 1975.
Em 2011 foi eleita deputada pelo partido Rússia Unida, o mesmo de Putin e Dmitri Medvedev. Atualmente ela vive entre Yaroslavl, perto da filha e da neta, e Moscou, onde exerce seu mandato parlamentar.
REFERÊNCIAS
– Cosmonaut Biography: Valentina Tereshkova. 19 de abril de 2018. Consultado em 20 de abril de 2021.
– Fifty years ago, Valentina Tereshkova became first woman in space. ABCNewsAU. Consultado em 10 de dezembro de 2013.
– Першая жанчына‑касманаўт ў дзяцінстве гаварыла па‑беларуску Arquivado em 21 de outubro de 2013, no Wayback Machine. (em russo) Página visitada em 16 de junho de 2012.
– Valentina Tereshkova (em inglês). starchild.gsfc.nasa.gov. Consultado em 16 de junho de 2012.
– Feldman, Heather. Valentina Tereshkova: The First Woman in Space. The Rosen Publishing Group, 2003. ISBN 0-8239-6246-6, ISBN 978082396246.
– Savitskaya. Spacefacts. Consultado em 10 de dezembro de 2013.
– Tereshkova. Gazetteer of Planetary Nomenclature. Consultado em 10 de dezembro de 2013.
– First Woman in space visits Esoc. ESA. Consultado em 13 de dezembro de 2013.
– Fifty Years of Women in Space. The Daily Beast. Consultado em 11 de dezembro de 2013. Arquivado do original em 20 de agosto de 2013.