Fonte: José Tadeu Pinheiro, Alfredo Martins
PRÓLOGO: ALFREDO MARTINS
Entre inúmeras memórias do GEA, o dia 20 de novembro de 2025 ficará eternizado em nossa história por um evento muito aguardado por seus associados: O lançamento do livro autoral de José Tadeu Pinheiro – De Frente para a Lagoa. Por longos dez anos comentávamos sobre o desenvolvimento desta publicação que felizmente chegou à luz. Um grande foco de interesse do GEA, ao par da astronomia, é o conhecimento da genuína personalidade de seus mestres, a construção de sua grandeza intelectual que culmina na importância e admiração de sua obra. É este o ponto que ancora a relevância desta publicação: o descortinamento de uma mente observadora, participativa, incentivadora, crítica e, sobretudo, com o cuidadoso trabalho de registrar para a memória, a evolução física e social de sua comunidade. Um manifesto existencial importante compartilhado com alegria por todos que lhe acompanharam ao longo de décadas nas orlas da Lagoa da Conceição e também os amantes e historiadores da saga vitoriosa de imigrantes e colonizadores.
O relevante evento de lançamento aconteceu no Salão Paroquial do Santuário Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, Florianópolis, prestigiado por dezenas de moradores da comunidade, familiares, autoridades eclesiásticas e políticas e honrosamente grande número do staff GEA. Destacou-se o amável acolhimento de Tadeu e família, a bela decoração do espaço, o primoroso coquetel, a sessão de autógrafos e o discurso do autor, um breve resumo da sua paixão pela Lagoa da Conceição e as motivações deste registro, repleto de história e das estórias por ele vivenciadas. Este particular imprime toda concretude e saborosa veracidade peculiares desta obra.
Os parceiros do GEA, de verdade, ficaram extasiados por tantas alegrias, encontros notáveis e reconhecimento de estar participando de um momento ímpar de fidelidade do Grupo. Tadeu sempre foi presença constante e importante em nossas atividades. Esta autenticidade na presença foi um grande reforço de nossa identidade. Estiveram presentes: Nosso presidente Adolfo Stotz Neto, Alexandre Amorim, Alfredo Martins, Altino Silva Jr, Angela Tresinari, Antônio C. de Lucena, Daniel B. Cordeiro, Edna M.E. da Silva, Jacqueline Silva, José Amilton da Silva, Júlio C. Fernandes, Luiz B. Dal Molin, Margherita Barracco e Tânia M. P. Silva.
É imperioso registrar a importância da participação de Denise Pinheiro, filha de Tadeu, por todo cuidadoso trabalho de organização e revisão dos textos. O prólogo deste livro, como segue, diz muito sobre a construção desta obra:
“Somos a memória do que somos.” (Anônimo)
“Nada somos quando não guardamos nada.” (Rodrigo de Haro)
Um livro é um presente.
De modo geral, o livro materializa a dedicação alimentada pelo desejo do autor de ter suas histórias – as verdadeiras e as inventadas (que nem por isso deixam de ser reais) – lidas, sendo fonte de descobertas e aprendizados, além de ganharem vida própria na mente e no coração de quem tiver a generosidade de se oferecer uma pausa do mundo (adentrando-se em outro) e se envolver com as palavras, que um dia foram pensadas, gestadas e em linhas transformadas.
A obra “De frente para a Lagoa”, de autoria de José Tadeu Pinheiro, meu pai, simboliza muito bem o sentimento de, reconhecendo a importância da História e a beleza do resgate do passado, querer-se compartilhar momentos de vidas que se, por um lado, não existem mais, por outro, embora com opacidade e, infelizmente, às vezes negligenciados, nos compõem, nos formam, queiramos ou não.
A grande Lagoa da Conceição dos indígenas, que deixaram seus registros em oficinas líticas (Barra da Lagoa e Praia da Joaquina) e em terras que abrigaram os sambaquis (Ponta das Almas ou Ponta das Armas, como o leitor poderá descobrir na leitura do livro), transformou-se, por séculos, em uma área praticamente inabitada.
Alguns registros históricos ligam a Lagoa da Conceição à sesmaria concedida a Dias Velho (1679) e, posteriormente, em contexto diverso, ao Padre Mateus de Leão (1698), que, muito hipoteticamente, Pode ter-se estendido da região de Ratones até à Lagoa. Mas, como li em livros e, principalmente, como aprendi nas conversas com meu pai, é muito improvável que na área, onde, em 1750, foi instalada a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição, tenham eles (ou a seu mando), Dias Velho ou Mateus de Leão, de fato, realizado plantações e/ou edificado moradias antes da chegada dos açorianos, ocorrida em 1748.
E a travessia oceânica das Ilhas dos Açores para a Ilha de Santa Catarina foi uma verdadeira epopeia, nas palavras de Piazza?
Um encontro de ilhas que, embora distantes entre si, igualmente, belas e estratégicas, ligaram-se no tempo e no contexto das grandes navegações e das rotas dos viajantes de diferentes partes do mundo, com destaque para a grande disputa entre Portugal e Espanha. Para as aventuras ao mar e além-mar, no desbravamento de um oceano vasto e desafiador, o Arquipélago dos Açores e a Ilha de Santa Catarina foram pausa, alívio e abrigo, bem como terra de encantos e de possibilidades, com natureza exuberante e riqueza de vidas em suas muitas nuances e, também, de muitas dificuldades.
No meu caso, a condição de presente, que um livro habitualmente tem, assume uma qualidade difícil de descrever em palavras.
De um pedido para ler um longo texto já escrito pelo meu pai, fruto de anos e anos de vivência, observação e escuta dele ao seu entorno e de pesquisas confirmatórias por ele realizadas, seguimos para um processo que não sabíamos bem como seria, mas que me conduziu a um lugar que me mostrou meu desconhecimento, seja da cidade em que nasci, e que, apesar disso, tanto amo e me identifico, seja da Lagoa da Conceição, cenário sempre presente nas vivências e memórias da minha vida. O trabalho ao qual eu aderi envolveu revisão de texto, estudos em conjunto, aproveitando-me do verdadeiro acervo que ele reuniu de livros e de documentos, e muitas tardes em que a leitura e análise do texto cederam espaço para conversas, muitas vezes acompanhadas de um verdadeiro fascínio e assombro de minha parte.
Conheci mais sobre o mundo, sobre a nossa cidade, sobre a Lagoa da Conceição, sobre o meu pai e antepassados, e, sim, sobre mim e também sobre o que Mateus, meu filho, é e, potencialmente, ainda será.
Reconheço os desafios dos que por aqui chegaram e os reverencio. Ao lado de um “mundo novo” e as suas muitas adversidades, uma natureza de encher os olhos em altos de morros e em linhas do horizonte. Alento para um cotidiano difícil, e, certamente, cenário também de vidas felizes.
Reconheço, do mesmo modo, os nossos desafios e a urgência de se proteger a nossa querida Ilha de Santa Catarina e restabelecer o equilíbrio da generosa, valente e sensível Lagoa da Conceição, cenário do enredo do presente livro.
Diferentemente de Diego, filho de Santiago Kovadloff, de Eduardo Galeano no “O Livro dos Abraços”‘, eu sempre conheci o sul, as dunas altas e o mar.
Contudo, a imensidão que me deparo, que sempre me surpreende ao chegar no alto do Morro da Lagoa, antes de iniciar a descida do Morro das Sete Voltas, ou ao colocar meus pés no topo das dunas da Joaquina, também me emudece de beleza, diante de tanto fulgor, provocando em mim um silêncio reverencial e, mais recentemente, tristemente, também de preocupação.
Ciente do privilégio deste momento, que é único e verdadeiramente espetacular, agradeço-te, pai, por mais uma vez, das infinitas já vividas, e as muitas por vivermos, ter me ajudado “a olhar”.
Denise Pinheiro
Ilha de Santa Catarina, junho de 2025.
O discurso do autor foi ponto alto do evento. Toda emoção deste momento, por demais significativo na vida de Tadeu, foram expressos em palavras que tocaram os corações da fraternal assistência. As cenas da infância, a respeitosa lembrança de seu pai e a cumplicidade com a história e ritos da Lagoa da Conceição soaram como uma mensagem de felicidade autêntica, de uma vida realizada em sua plenitude. Com os renovados parabéns ao querido associado do GEA e estimado amigo, segue o texto de sua fala:
TADEU JOSÉ PINHEIRO: 20/11/2025
“Boa tarde a todos.
Após um grande trabalho de pesquisa, ouvidas, lidas e vividas, apresento o Livro de Minha autoria, escudado pela minha filha Denise, que dei o nome título: De Frente para a Lagoa.

Quando estava com seis anos de vida, o Distrito da Lagoa da Conceição, antiga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa, recebeu grande impulso turístico do poder Municipal, além de uma melhoria na estrada de acesso a Lagoa, especialmente o Morro das 7 voltas, como era chamado o Morro da Lagoa, e foi dado início a construção do primeiro Mirante do Morro da Lagoa, com uma curiosidade crescente dos nativos. Correu rápido a informação que, a construção teria uma laje de concreto sobre colunas, e quando de sua construção, a equipe de trabalho não poderia parar, enquanto não estivesse completada sua concretagem, mesmo, que fosse até altas horas da noite.
A notícia rapidamente divulgou-se na população da Lagoa e, muita gente subiu o Morro a noite para ver o trabalho.
Fui com meu pai, e ao chegarmos no local, vimos um caminhão estacionado com grupo gerador de eletricidade, e um cordão de lâmpadas iluminando toda área de trabalho. Uma Betoneira misturava porções de areia, pedras, cimento e água e a mistura quando pronta, despejava numa caixa de madeira da qual os operários com pás enchiam carrinhos de mão e levavam para jogar num emaranhado de ferro, com pedaços de madeira, operários iam acomodando a mistura naquele emaranhado.
Com certeza, essa fato na minha infância me fez interessar por todos os acontecimentos que ocorriam no Distrito da Lagoa.
Observava os jornais que meu tio, irmão de meu pai, escrivão da Lagoa, Laurindo Gonçalves Pinheiro, de saudosa memória, por dever de ofício ia constantemente a cidade, comprava jornais e cedia para meu pai ler, e toda família usufruía com leitura das notícias.
Acredito, não sei precisar exatamente o tempo, uns 8 anos após termos ido ver a concretagem da laje suspensa do mirante, um jornal que chegou lá em casa, estampava na primeira página esta foto da capa, por mim eleita para compor a capa do livro de Frente para a Lagoa. Era uma reportagem sobre turismo e a pessoa no mirante é meu pai. Ele sempre negou ser ele, a pessoa que estava no mirante, volta e meia se traia, dizendo que apontou locais na lagoa para um homem que estava em um automóvel mais não viu nenhuma máquina fotográfica. Meu pai era um crítico feroz da pesca predatória de arrasto que se praticou na lagoa e, com roça próximo ao mirante, sempre dava uma olhada como estava a lagoa no ambiente hídrico.
O jornal ficou por muito tempo guardado, até deteriorar-se.
Há pouco tempo, apareceu na Internet, em sítio de fotos antigas de Florianópolis a foto do primeiro mirante com meu pai.
O mirante a época da foto já estava bastante vandalizado, os gradis de ferro foram destruídos, houve recuperação com alvenaria, mas novamente vandalizado. Um projeto que incluía um hotel com piscina, chegou a ser construído, infelizmente, está há muito tempo abandonado e em ruinas. Nos anos 2000, foi construído um mirante em parte menos elevada, com fácil acesso, mas com visualização inferior da Lagoa.
Em 1749 nesta região onde estamos, foi dado início a fundação por Jose da Silva Paes, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa.
Neste livro tem informações como Desterro se desenvolveu e a migração açoriana, está em detalhes.
O foco principal é como viviam e evoluiu a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa.
Em 1749 nesta região onde estamos, foi dado início a fundação por Jose da Silva Paes, da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa.
Terminando essa locução, estou certo que deveríamos ter nesta região, um marco com inscrições lembrando a Fundação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa por Jose da Silva Paes, oficializada por Provisão Régia de 7 de Junho de 1750, e um agradecimento as famílias açorianas que aqui foram assentadas, e deram na prática a formatação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição da Lagoa.”
MEMÓRIA VISUAL