2017

GEA Visita o Maior Meteorito Conhecido na Terra:
HOBA / Namíbia / África

Fonte: Angela Tresinari

Em agosto de 2017, juntamente com mais 4 amigos, iniciei uma viagem a três países da África: África do Sul, Botsuana e Namíbia. Quando definimos nosso roteiro tínhamos vários objetivos, que além de vivenciar suas culturas, dois outros foram elencados como principais. Primeiro: visitas aos vários incríveis parques e outras áreas protegidas nesses países, como o Kruger e Table Mountain na África do Sul, Delta do Okavango, Chobe e Moremi. Na Namíbia tínhamos como principais objetivos visitar o surpreendente Parque Nacional Etosha, o Gondwana National Park, ao Sul de Keetmanshoop e, certamente, o impressionante meteorito Hoba. Felizmente conseguimos alcançar todos nossos propósitos.

E é sobre essa incrível experiência e aprendizado vividos na visita ao meteorito Hoba, que passo a descrever.

LOCALIZAÇÃO DO METEORITO

O meteorito Hoba localiza-se na Namíbia, África, mais precisamente nas coordenadas 19º 35.5′ S,17° 56.0′ E., na fazenda Hoba West, à 20km a oeste da cidade de Grootfontein situada na região Otjozondjupa. A cidade de Grootfontein está localizada a cerca de 458 km ao norte da capital da Namíbia, Windhoek.

A cidade de Grootfontein localiza-se à 1.461 m de altitude, tem população de cerca de 20.000 habitantes, sendo que sua principal economia é a pecuária, seguida por agricultura, e mineração de cobre e chumbo.

O aumento da visitação ao meteorito Hoba, começa a ser notado como significativo para a economia da cidade.

HISTÓRIA DA DESCOBERTA DO HOBA

O meteorito foi descoberto acidentalmente pelo agricultor Jacobus Hermanus Brits (1881-1961), fazendeiro em Grootfontein, quando andava por uma área nos campos, em sua propriedade. Ele fez um relato sobre sua descoberta, e o documento encontra-se no Museu Old Fort em Grootfontein. Assim ele descreve o achado:

“Depois de 1920 vivi na fazenda Hoba West (em africânder Hoba significa “presente”). Em uma ocasião, dois ou três anos depois de minha chegada lá, enquanto caçava, deparei-me com uma rocha peculiar da qual apenas a parte superior era visível. Sua aparência enegrecida se destacava visivelmente do calcário branco-amarelado ao redor.

Raspei a superfície da rocha com uma faca e notei que ela estava brilhante. Peguei um cinzel, Cortei uma pequena parte dela e levei para a SWA – South West Africa Company (empresa ferroviária e mineira). O diretor examinou, investigou a rocha na minha fazenda e concluiu que era um meteorito. Depois de ter sido parcialmente escavado seu peso, naquele momento, foi estimado em oitenta toneladas.”

O surpreendente tamanho da rocha ia sendo revelado à medida que o solo ia sendo removido. No entanto, o assunto da descoberta ficou restrito à área onde se localizava o meteorito, já que naquela época era difícil chegar na área de Groonfontein, e os meios de comunicação eram ainda incipientes. Alguns poucos especialistas visitaram o meteorito, que era ainda quase ignorado, mesmo entre cientistas.

Por quase uma década sua existência permaneceu praticamente desconhecida. A situação mudou quando, em 1929, o já renomado astrônomo holandês-americano Willem Jacob Luyten (1899-1994) tomou conhecimento da existência do meteorito, visitou a área e escreveu o artigo denominado The Groorfontein meteorite, publicado na série The South African Journal of Science. O artigo foi publicado em 23 de fevereiro de 1929. (Naquele momento o meteorito era conhecido pelo nome de meteorito Grootfontein). Em 1 de junho do mesmo ano, Luyten publicou a descrição do meteorito em uma literatura científica: Harvard College Observatory, o que lhe rendeu renome mundial.

A publicação de dois artigos de Luyten sobre o Hoba no jornal The New York Times, um em 13 de março de 1929, e outro no dia 21 de abril do mesmo ano, foi decisiva para disseminar a existência e despertar o interesse público pelo meteorito.

O eminente geólogo Leonard James Spencer (1870 – 1959) do Museu Britânico de Londres, visitou o Hoba em 1929, e em 1930. Em março de 1932 publicou um artigo científico substancial sobre o meteorito no Magazine and Journal da Mineralogical Society de Londres: Hoba (South-West Africa), the largest known meteorite). Esse artigo é ainda considerado essencial para qualquer pessoa interessada no assunto. Desde então, o meteorito tem sido o foco de vários estudos científicos.

À partir da disseminação da existência do Hoba o interesse de grandes organizações ligadas ao assunto aumentou exponencialmente. Por exemplo, o Smithsoninan Institution, dos Estados Unidos, coletou algumas amostras do meteorito, que se encontram depositadas no Departamento de Ciências Naturais do Museu Nacional de História Natural do Smithsonian. À época foram feitas várias análises do material coletado, e as conclusões foram praticamente idênticas àquelas feitas anteriormente pela SWA Company, em 1920.

Diante do grande e variado interesse despertado pela existência do meteorito, membros do governo sul-africano pensaram em mover o meteorito para Pretória (capital da África do Sul). Houve diversas propostas para removê-lo, inclusive a de levá-lo para Inglaterra, e até mesmo para o Museu de História Natural de Nova York. Mas não demorou muito para perceberem a impossibilidade de transportar um objeto daquela magnitude. Para colocar fim nos diversos interesses e discussões, as autoridades da Namíbia foram rápidas em estabelecer que era ilegal transportar o meteorito para fora do país.

Em 1955 a Namíbia, então denominada África do Sudoeste, era governada pela África do Sul. Preocupado com a integridade do meteorito, e para evitar vandalismo, naquele ano o governo sul-africano declarou o meteorito Hoba como Monumento de Herança Nacional.

Em 1987, o então proprietário da fazenda “Hoba West”, Mr. J. Engelbrecht, doou o local do meteorito para o Estado, a fim de protegê-lo em sua integridade, para fins educativos. No mesmo ano foram construídos um anfiteatro de pedra ao redor do meteorito, e um centro de visitantes nas proximidades. Milhares de pessoas visitam o local todos os anos.

COMPOSIÇÃO E ESTRUTURA

O Hoba é considerado o maior objeto maciço, de ferro, de ocorrência natural que se conhece na superfície da Terra. É também o maior meteorito intacto encontrado na Terra.

Sua composição é de cerca de 82,3% de ferro, 16,4% de níquel e 0,8% de cobalto, bem como vestígios de carbono, enxofre, cromo, cobre, zinco, gálio, germânio e irídio.

Acredita-se que quando o meteorito entrou na atmosfera terrestre ele tinha cerca de 66 toneladas, mas atualmente ele tem cerca de 60 toneladas. Desde que o Hoba foi dado conhecer ao mundo, vários cientistas e caçadores de souvenirs lascaram pedaços dele ao longo dos anos, até que o mesmo foi protegido por instrumento legal.

Além de sua composição, a estrutura ataxítica do meteorito Hoba — o que significa que não possui um padrão cristalino distinto — se destaca. A maioria dos meteoritos de ferro exibe padrões Widmanstätten, que são estruturas cristalinas visíveis formadas quando o metal esfria lentamente ao longo de milhões de anos no espaço. No entanto, devido ao seu teor de níquel, Hoba esfriou de forma diferente, levando a uma superfície lisa e uniforme, sem esses padrões característicos. Isso faz ainda com que o meteorito seja considerado raro e muito denso.

O meteorito Hoba tem um formato aproximadamente retangular com um topo plano. Ele mede cerca de 2,95 por 2,84 m., com espessura variando entre 122 e 75 cm.

Não existe certeza sobre as razões pelas quais o Hoba sobreviveu ao impacto na Terra, e também porque não formou cratera quando caiu, já que provavelmente formou apenas uma pequena cratera, com cerca de 20 metros de diâmetro e cerca de 5 metros de profundidade, que rapidamente se erodiu. Algumas teorias foram desenvolvidas para se tentar entender esses fenômenos.

De acordo com a American Meteor Society, meteoritos geralmente atingem a atmosfera da Terra com cerca de 11km/s a 72km/s, velocidade essa que vai diminuindo à medida que penetra na densa camada da atmosfera. No caso do Hoba, como grande parte dele sobreviveu ao impacto, é provável que ele tenha entrado na atmosfera da Terra em um ângulo raso e atingido o solo a uma velocidade relativamente baixa de menos de várias centenas de metros por segundo.

Acredita-se também que seu formato plano e tabular tenha contribuído para essa descida fosse anormalmente lenta, o que o impediu de se estilhaçar ou criar uma grande cratera de impacto ao atingir o solo. Existe teoria que admite que provavelmente o Hoba ricocheteou ou saltou pela superfície, caindo quase intacto na área onde hoje se encontra.

IDADE

Devido à presença de um raro isótopo radioativo de níquel com uma meia-vida de menos de 80.000 anos, cientistas conseguiram estabelecer que o meteorito Hoba tenha caído na Terra há menos de 80.000 anos.

Apesar de não haver certeza sobre o tempo que essa rocha interestelar estava viajando pelo espaço antes de pousar em nosso planeta, análises feitas até o momento acreditam que a idade do meteorito deve variar entre 190 e 410 milhões de anos.

CONCLUINDO…

Devo registrar que a visita ao Hoba foi, para mim, uma oportunidade ímpar, especialmente pelo fato de ter podido tocar a “estrela caída da Namíbia”, e tentar imaginar sua formação e trajetória pelo espaço, até poder repousar nos solos africanos, casa também dos grandes animais e estupendas paisagens! Destaco também o fato de se ter a facilidade de chegar até ele, nos dias de hoje, deve-se há uma história repleta de pessoas comuns, cientistas, administradores e outros, que tiveram a sensibilidade de proteger aquela preciosidade.

Finalizo agradecendo Jordan Paulo Wallauer, meu cunhado, que organizou a viagem, fazendo diversas modificações e ajustes para que eu pudesse ter essa inesquecível experiência!

Outros Participantes da Viagem:

Jordan Paulo Wallauer; Martha Tresinari B. Wallauer, Filomena Coelho de Carvalho e Antônio Augusto S. Carvalho.

LITERATURA CONSULTADA

(1) – The History of the Hoba Meteorite
Part I: Nature and Discovery. P E Spargo
Department of Physics, University of Cape Town,
Rondebosch 7701, South Africa
peter@spargo.wcape.school.za

(2) -Meteorites em Roadside Geology of Namibia

(3) – The Hoba meteorite: a celestial treasure buried in Namibia.
André Grandchamps – Espace Pour la Vie –
Montreal (espacepourlavie.ca) 27 maio de 2020

(4) – No centro de visitantes do Hoba são disponibilizados 2 artigos
Hoba: Namibia’s “Hoba Meteorite Fallen Star”, escrito por Matthias Blenks e
Hoba Meteorite (sem autor)

(5) – American Meteor Society, em Fireball em FAQS

(6) – American Museum of Natural History

(7) – Sabine African Journals – journals.co.za The History of the Hoba Meteorite

(8) – Natural History Museum. www.nhm.ac.uk.

(9) – Britannica – Hoba meteorite

MEMÓRIA VISUAL

HOBA